A primeira vez que Roberto Mancini ganhou um título da liga italiana
como técnico, os críticos disseram que tinha sido apenas sorte, e pela segunda
vez, foi porque os adversários tinha sido severamente prejudicados, graças ao
escândalo de apostas. Mancini veio e ganhou novamente, e os críticos não
puderam dar mais desculpa alguma.
Esse é o seu desafio no City nesta próxima temporada, para provar que
na última não foi um triunfo isolado, para nunca mais, como o Blackburn Rovers em 1995, mas sim o início de uma nova era no
futebol Inglês.
Eles dizem que o primeiro é o mais difícil de vencer. Até que você
tenha o troféu transportado a bordo de seu ônibus, você realmente não sabe o
que é preciso.
Claro, homens como Yaya Toure e Carlos Tevez já passaram por isso
antes de tudo, sabem como manter a calma, sabem que as dificuldades não são uma
razão para pânico, e acreditam que a qualidade vai sobressair.
Voltando a 1995, quando o Blackburn conquistou o título, houve uma
nítida sensação de dever cumprido, que a missão de seu mentor milionário Jack
Walker estava completa.
Não havia nada disso em Manchester, independentemente do fato de que se
encerrou uma espera de 44 anos, e em seguida veio à vitória sobre o Chelsea,
pela Community Shield, no domingo.
Claro que houve lágrimas e delírio em torno do Etihad Stadium, jogadores
e Mancini participaram por completo das celebrações. Mas havia também uma forte
corrente de sentimentos que isto não era um fim, mas o começo de algo grande.
Essa é a beleza que o elenco moldou no clube - eles têm fome de
coincidir a sua qualidade com a força de caráter, o que é um mau presságio para
o resto da Premier League.
Mas nesta temporada, como acontece sempre, o City precisa melhorar.
Isso significa defender seu título, e fazer uma participação digna na Liga dos
Campeões – o que sem dúvida é a meta do Sheikh Mansour e seus executivos. Mas é
certo que a vontade de vencer não vem de prêmios ou bônus financeiros.
Mancini tem sido rotulado de "sortudo" por alguns na Itália.
Que remete ao seu hat-trick de títulos na Inter de Milão. O primeiro foi
concedido após o final do torneio, depois que Juventus e Milan, que terminaram
a frente na tabela, sofrerem pesadas deduções de pontos, o segundo veio com a
Juventus relegada e o Milan começando com -30.
O mesmo erradamente pode-se falar da última conquista: os torcedores
do United passaram o verão confortando-se de que eles perderam o título no
saldo de gols, nos dois minutos de acréscimos.
Mas o que se ignora é que o City foi a melhor equipe durante toda a
temporada, como Paul Scholes, a exemplo, admitiu. Eles marcaram mais gols, sofreram
menos, e venceram os rivais duas vezes, com um agregado de 7-1.
Independentemente de quaisquer movimentos no mercado de transferências
entre agora e o fim da janela, os Blues estarão à frente, serão o time a ser
batido.
A equipe da temporada passada teve consolidação em andamento, ainda
estabelecendo o estilo de Mancini após o desembarque de Sergio Aguero, Samir
Nasri e Gael Clichy.
Agora se promete muito mais: Clichy tende a aperfeiçoar seu lado
ofensivo, já que se destacou pela marcação, Nasri mostrou sua habilidade em flashes,
deve ser mais regular agora, e Aguero também deu a entender que ainda tem muito
mais a mostrar, já que foi apenas sua primeira temporada em solo inglês.
Há outros jogadores que têm espaço para melhorar, e Mario Balotelli é
o nome que vem imediatamente à mente de Mancini. A evidência da Euro 2012 não
foi conclusiva, de onde Super Mario passou de tolo e inútil para brilhante e
instintivo, a depender dos jogos.
Se agir com a cabeça, e conseguir alguma consistência, Balotelli tem
tudo para ser a sensação da temporada nesta Premier. Muito melhor ser famoso
por gols espetaculares e futebol do que por usar chapéus de frango e soltar
fogos dentro de casa, entre muitas outras besteiras.
A Liga dos Campeões mais uma vez proporciona um desafio extra, não que
o título seja obrigação, mas é esperado avançar além da fase de grupos desta
vez. E Mancini tem um elenco que permitirá fazer uma boa rotação entre as
competições.
Muitas pessoas pensaram que, com maiores nomes chegando ao elenco
estrelado, o técnico teria problemas para gerir os egos, que causariam
bastantes problemas. Mas, com a notável exceção de Tevez, que tirou férias não autorizadas
de três meses, e se recusou a entrar em campo, não tivemos nada sério, e o que
se viu foi muita união em torno dos objetivos.
Afinal, o italiano teve de se preocupar apenas com as opções
escolhidas para o time titular.
Micah Richards, Pablo Zabaleta, Clichy e Aleks Kolarov revezaram nas
funções laterais, com Mancini optando por Zabaleta e Clichy para fechar a
temporada - uma boa decisão, totalmente justificada.
Ninguém pode argumentar sobre Vincent Kompany e Joleon Lescott
comandando o centro da defesa, enquanto Gareth Barry e Yaya Toure foram os
escolhidos para fazer a proteção do meio.
Adam Johnson não jogou tanto como ele teria gostado, o que lhe custou
o lugar na seleção da Inglaterra para o Euro 2012, e especulações de saída. Mas
ele sabe o porque: tem muita habilidade, mas precisa mostrar isso mais vezes, e
combiná-la com disciplina e ritmo de trabalho.
Ele certamente não fez o suficiente para tirar a vaga de Nasri nos
últimos estágios da temporada, e como Roberto diz, precisa ficar melhor se quer
ser a primeira escolha.
Foi o que mostrou Nigel de Jong. Nos dois primeiros terços, outrora
incontestável, ele parecia um jogador que tinha sido deixado para trás pela
evolução da equipe, perdendo a titularidade. Mas adaptou seu jogo, e desempenhou um grande
papel na fase final, sendo a opção em campo que liberava Yaya de suas funções
defensivas, algo que foi decisivo.
Os jogadores podem agora ver porque Mancini faz as coisas do jeito que
faz, e eles sabem que funciona, outro ingrediente vital na síntese de uma
equipe vencedora. Que venha 2012/13!
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